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A Importância de Não Fazer Nada: O Valor do Ócio na Vida Psíquica

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Vivemos em uma era marcada pela hiperprodutividade. Fazer, produzir, mostrar, compartilhar. O tempo, cada vez mais cronometrado, parece não nos permitir parar.


Mas o que acontece quando, finalmente, nos desconectamos? Quando nos damos o direito de simplesmente... não fazer nada?


Recentemente, a revista científica Nature publicou um estudo que evidencia algo que a escuta psicanalítica já captava de forma sensível há tempos: o ócio, o tempo "vazio", é essencial para o funcionamento saudável da mente.


Os pesquisadores mostraram que momentos de pausa, sem estímulo externo, favorecem a consolidação da memória, a criatividade e a autorreflexão. É como se o cérebro, ao descansar da tarefa de responder ao mundo, pudesse, enfim, voltar-se para si.


Na clínica, vemos isso de modo sutil, mas profundo. O sujeito que consegue se autorizar a não fazer nada frequentemente começa a se escutar com mais verdade. No silêncio das demandas externas, emergem os ruídos internos, os desejos esquecidos, angústias recalcadas, devires inacabados. É no tempo do ócio que o inconsciente sussurra.


Freud já nos falava sobre o trabalho do sonho, uma atividade psíquica que se dá justamente quando estamos “desligados”. Lacan, mais adiante, nos lembraria que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, e que o silêncio também fala. O ócio, nesse sentido, não é ausência, mas espaço simbólico para elaboração.


Nosso tempo atual resiste ao não fazer. Há quase uma culpa associada a parar, como se isso ameaçasse nossa identidade produtiva. Mas, do ponto de vista psíquico, sustentar o ócio é, paradoxalmente, um ato de presença. Não é passividade: é escuta.


Ao desconectar-se das telas, do excesso de informações, das cobranças internas e externas, abrimos espaço para que algo de nós mesmos apareça. O ócio pode ser a chance de um reencontro com aquilo que se perdeu no atropelo dos dias.

 
 
 

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