A angústia dos domingos: entre o fim e o recomeço
- SIRLEI PEREIRA NUNES
- 27 de jul.
- 2 min de leitura

Você já sentiu uma tristeza ou ansiedade surgindo no final do domingo? Um aperto no peito, uma inquietação difusa, a sensação de que algo se aproxima, mesmo sem saber exatamente o quê?
Esse sentimento, tão comum, tem até nome popular: a “deprê de domingo”. Mas por trás desse termo coloquial, existe uma vivência emocional complexa, atravessada por questões subjetivas e sociais, especialmente relacionadas ao trabalho.
Na perspectiva psicanalítica, o domingo à noite pode funcionar como um ponto de condensação psíquica. Ele marca simbolicamente o fim de um período de (relativa) liberdade e o retorno ao tempo da exigência, da produtividade, da cobrança externa e interna. A segunda-feira, então, torna-se representante do Super-eu, aquela instância psíquica que impõe regras, deveres e ideais, muitas vezes em detrimento do desejo.
Esse mal-estar dominical também pode apontar para um descompasso mais profundo entre o sujeito e sua atividade laboral. O trabalho, que deveria ser uma expressão possível de laço social e realização, torna-se um lugar de sofrimento psíquico quando está desconectado da subjetividade ou marcado por ambientes adoecidos.
A angústia dos domingos não se resolve apenas com “boa gestão do tempo” ou “mindfulness”, embora essas estratégias possam ajudar. É preciso escutar o que essa angústia quer dizer. O que está em jogo quando pensamos no retorno ao trabalho? Do que estamos fugindo, ou o que estamos suportando em excesso? Há desejo investido em nossas escolhas?
Freud nos lembra que o sofrimento neurótico muitas vezes está ligado àquilo que repetimos sem saber, e também ao que evitamos olhar. Talvez a ansiedade do domingo seja o sintoma que nos convoca a uma escuta mais honesta de nós mesmos.
Que tal, então, ao invés de apenas evitar o desconforto do domingo, acolhê-lo como uma possibilidade de reflexão? Porque às vezes, escutar o incômodo é o primeiro passo para transformar a relação com o trabalho, e com a própria vida.
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